Que pensamentos ocupam a mente dos adolescentes
nos dias que passam por eles?
Acompanham os dias ou são por eles
ultrapassados?
Ou ultrapassam os dias e veem-nos ficar para
trás, vazios?
Ou vão ao seu lado, guardando-os depois como
objetos valiosos nas paredes dos quartos?
Os adolescentes perseguem o quê? O que os
inquieta? Revoltar-se-ão o suficiente?
A alma adolescente é, geralmente, opaca. Os
adultos dificilmente se apercebem do que lá se passa. Mas alguns interrogam-se.
Mas interrogam pouco os adolescentes. Eles também não gostam muito de ser
interrogados, preferem o diálogo ou o silêncio.
O que da alma adolescente se revela pode
parecer, por vezes, pouco atrativo e mesmo fatal para a curiosidade dos
adultos, mas pode, também, sob a forma de uma expressão especialmente triste ou
sorridente ou de algumas palavras que lhe escapam, avivar a vontade de saber o
que sente.
A alma adulta tende ou a esquecer-se e a desencantar-se com os adolescentes. Mas
quando passa muito tempo sem ter notícias da alma adolescente, o adulto é,
subitamente, assaltado pela ideia de que tem que fazer algo para saber o que lá
se passa. Então pensa em estratégias para recuperar o contacto. Organiza, por
exemplo, concursos de poesia: disse Eugénio de Andrade que "o ato poético
é o empenho total do ser para a sua revelação."
E a alma adolescente surpreende a alma
adulta: participa em grande número. E não hesita em revelar-se e agradar
novamente.
António Martinho