Histórias que temo em vão,
somente, medos do meu coração.
Apressado e gélido, o Inverno se
avizinha,
recordo a solidão que pensava ser só
minha.
Lenço azul, com cuidado posto.
Vejo um velho homem que esconde o
rosto.
Sentado, junto da lareira,
vê arder o tempo em vez da madeira.
Mãos calejadas pelo duro trabalho,
desfruta agora do caminho e não do
atalho.
À fogueira, o seu corpo encurvado,
o velho homem sente-se só e abandonado.
Chego então perto de si, abraçando-o,
beijo-lhe a testa e assim lhe vou
falando:
Esse teu olhar, triste e cansado,
reflete alguém cujo percurso está
acabado.
Esse não és tu, nem eu,
esse é alguém, cuja força esqueceu.
De nada serve estares aí sentado,
aquecendo as mãos e o corpo fatigado.
Levanta-te dessa velha cadeira,
e vem comigo hastear a bandeira.
Não és demasiado velho ou sem valor,
para, ainda assim, retribuíres o amor.
Talvez avô, pai ou irmão.
Decerto, amigo que afasta a solidão.
Estava mergulhado na ilusão.
Obrigado, velho homem, ensinaste uma
lição!
Pegando na minha mão, com esforço
imenso,
o velho homem largou a bengala e o
lenço.
Abraçou-se a mim e sorriu.
Eu sabia que estava feliz e assim
retorquiu:
« E agora meu jovem rapaz, digamos...
Com a frustração todos nós lidamos.
Seja a velhice que o tempo faz chegar,
ou a mágoa que o vento faz regressar.
Jovem, todos os dias te rebaixarão.
Nenhum deles será exceção!
Mas em ti confio e sei que és capaz,
de pela vida fora, seres bom rapaz.
Não sei como te agradecer,
um simples sorriso teu fez-me perceber,
que por mais que a dor regresse,
um amigo nunca se esquece. »
Sem saber mais o que fazer,
num abraço as palavras ficaram por
dizer.
Um gesto simples e puro, por fim,
que outrora fora irrelevante para mim.
FRANCISCA
PRATAS PEREIRA DA SILVA, 10F