quarta-feira, 16 de março de 2016

INTRODUÇÃO

Que pensamentos ocupam a mente dos adolescentes nos dias que passam por eles?
Acompanham os dias ou são por eles ultrapassados?
Ou ultrapassam os dias e veem-nos ficar para trás, vazios?
Ou vão ao seu lado, guardando-os depois como objetos valiosos nas paredes dos quartos?
Os adolescentes perseguem o quê? O que os inquieta? Revoltar-se-ão o suficiente?
A alma adolescente é, geralmente, opaca. Os adultos dificilmente se apercebem do que lá se passa. Mas alguns interrogam-se. Mas interrogam pouco os adolescentes. Eles também não gostam muito de ser interrogados, preferem o diálogo ou o silêncio.
O que da alma adolescente se revela pode parecer, por vezes, pouco atrativo e mesmo fatal para a curiosidade dos adultos, mas pode, também, sob a forma de uma expressão especialmente triste ou sorridente ou de algumas palavras que lhe escapam, avivar a vontade de saber o que sente.
A alma adulta tende ou a esquecer-se e a  desencantar-se com os adolescentes. Mas quando passa muito tempo sem ter notícias da alma adolescente, o adulto é, subitamente, assaltado pela ideia de que tem que fazer algo para saber o que lá se passa. Então pensa em estratégias para recuperar o contacto. Organiza, por exemplo, concursos de poesia: disse Eugénio de Andrade que "o ato poético é o empenho total do ser para a sua revelação."
E a alma adolescente surpreende a alma adulta: participa em grande número. E não hesita em revelar-se e agradar novamente.

António Martinho

1º prémio 2016: A ÚLTIMA NOITE - André Seguro de Almeida - 11D

Vivamente, esses teus olhos brilham,
Nesta noite, de lua cheia,
Como se me quisesses contar algo,
Com esse teu canto de sereia.

Rasgados pelo macio assobio do vento,
Os teus cabelos dançam suavemente,
Hipnotizando-me com o movimento,
Roubando o meu corpo e mente.

Vejo o reflexo das estrelas cadentes,
Na tua face, de princesa,
Pois para além do doce e fluorescente luar,
Não há uma única luz acesa.

Esse sorriso, que me enternece,
E dentes de arte pura e divinal,
Lábios de anjo, de deusa mesmo!
Esse teu bem é o meu mal…

Mas há coisas de que não falo…
Como das tuas orelhas por exemplo,
Só vejo o que o vento me deixa,
E é esse mistério que contemplo.

E o teu corpo, branco e leve,
Estátua trabalhada sem fim,
Faz-me lembrar a fria neve,
Na qual a primeira vez te vi.

Com a noite pesada, tudo esmoreceu,
Há um sombrio silêncio no ar,
Mas eu continuo embalado,
Olhando para ti, quase a chorar…

Finalmente, estamos de pé,
Apreciando um longo e triste abraço,
Vejo-te desaparecer pela rua escura,
Acabo de perder, de mim, um pedaço…



André Seguro de Almeida   nº3   11ºD

2º Prémio 2016: MÃOS DE PIANISTA - Inês Santos - 12D

Aquelas mãos de pianista
Que me amparam

Que teclam
Com calma,
A pauta de uma vida

Aquelas mãos de pianista
Que me dizem o que sentem
E que eu sinto reciprocamente

Aquelas mãos de pianista
Que me impulsionam a ir para a frente
Sem medos

Aquelas mãos de pianista
Que não me deixam cair
E que eu jamais largarei
Para que elas não caiam também

Inês Santos, 12?

O NOSSO FINAL FELIZ - David Garcia - 12A

O revólver não hesita.
A inocente fragilidade
Separa-se, então,
Em pedaços mil, flutuando
Num mar de viva profusão
Comparável apenas
À sumarenta perdição
Que teus carnudos lábios são.

Náufragos na vermelha vividez,
Teus olhos semiabertos jazem,
Reluzindo como azuis safiras,
Dizendo um último adeus ao mundo,
Antes de se juntarem
Ao deus do profundo.

A tua perfeição fora
O principal ingrediente
De uma morte não acidental,
Apenas acidentalmente conveniente.

Contudo,
No que de mim depender,
O esquecimento a ti não levará:
Com o mais genuíno dos óleos
Tuas lívidas e belas feições
Preservadas serão
Num fiel retrato pintado
Em tons escarlate de amarga obsessão.

David Garcia, 12ºA

VENTOS DE VERÃO - Ricardo Santos - 10D

Os ventos de Verão são
como o bafo de dragão,
como o calor do coração,
como a chama da paixão.

Uns ventos que
desidratam o hidratar,
secam o molhar,
transformam a água em ar.

Os ventos que se sentem
vêm do interior de uma porta,
as portas do Inferno que se abrem
e arejam os calores
com tormentos e horrores. 




Ricardo, 10D

O POETA É UM SOLDADO - Francisco Cordeiro - 10D

O poeta é um soldado
Com espada de gume encantado
Que não destrói, mas cria
A nudez da verdade, a poesia

Poesia que, bipolar e inconstante
Tanto alegre como angustiante
Manifesta o equilíbrio da vida
Linda e feia, cativante e aborrecida.

E como viveria o Homem
Sem o sofrimento e a dor
Sem as mágoas que o consomem? 

E como viveria o Homem
Sem a felicidade e o prazer
Sem alegrias que o animem?


Francisco Cordeiro, 10D

POEMA - Carolina Freitas - 10B

Etapas,
Divisórias
Ou apenas provisórias?

Dividimos o tempo,
Como acontecimento
Com algum alento

Será que controlamos
O que desejamos
Ou apenas o queiramos?

Se para sonhar e amar,
Dançar ou tocar,
Tivermos de gritar e chorar?

Mas se formos dependentes
Nas nossas mentes,
Continuaremos crentes?






Carolina da Silva Freitas, nº9

Turma B, 10ºAno

SER MÚSICO - Débora - 10B

Ser músico é ser diferente,
é amar eternamente.

É voar a cada suspiro,
é sentir cada respiração
como uma batida do coração.
É ir mais além ao sonhar,
é amar.

Amar a música mais do que tudo,
dedilhar sem amanhã,
soprar para viver,
tocar para sorrir,
a música é o meu existir.

Não é ser instrumentista,
não é ser cantor,
é amar a música,
além da alegria e da dor.

É fazer tudo
para se manter a paixão viva,
é amar a música
mais do que se ama a comida.
É querer sempre ser melhor,
é lutar por um maior amor.

É simplesmente amar,
amar tudo até à última batida,
e sonhar,
viver o sonho de uma vida.

Débora, 10B

QUERO PARTICIPAR - Diogo Guerreiro - 12A

Quero participar mas não consigo,
Quero que a minha alma fantasie o que não é realidade
Entrar neste novo universo sem fim e sem limites,
Será que tenho que me tornar no vazio para que possa entrar?
Ou será que tenho que preencher o meu espírito e tornar-me num Deus?

Ao entrar nesta nova dimensão,
Emoções cadentes penetram dentro de mim,
Acho que feliz entristecendo,
Ou isto é a mudança ocorrente no coração?
A paciência é a sabedoria do esperar

A emoção é reservada para um futuro próspero
O breve destino que será alcançado por Deus
Qual é a escolha do supremo?





Diogo Guerreiro, 7, 12A

TICK TOCK - Francisco Sousa - 12A

Tick tock
O tempo está a passar,
Está a contar.
Não fiques para trás
Está a acabar.
Tick tock
Escreve mais rapidamente.
Tick tock
Tick tock
O relógio roda.
Tick tock
Tick stop!
O (teu) tempo acabou.

Porque ainda vagueias no presente
À espera do passado?







Francisco Sousa, 12A

FUGIA - Francisco Sousa - 12A

Fugia.
De pedra em pedra saltava,
Atravessando o abismo interminável
Que não tinha fim, 
E a lado nenhum chegava.

Temia.
O avistamento de terra ansiava
Mas apenas apareciam ilhas flutuantes
Que só pareciam flutuar.
Seria desta que escorregava?

Não entendia.
Desde que se lembrava que escapava.
Olhou para a frente
e viu a vida que não queria viver.
Porque é que o pesadelo não acabava?

Não sentia.
Olhou para trás e não viu nada.
Fugia do passado
Mas o passado ficou no passado.
E percebeu que já não doía.

Parou então.  
A ilha que o apoiava deixou de apoiar.
Mas não caiu no abismo
Porque percebeu que tinha asas.
E podia voar.


Francisco Sousa, 12A

FOGUEIRA DE UMA CHAMA SÓ - Inês Santos - 12D

No segredo do escuro
Eu desenho histórias
Nas suas labaredas,
Um cavaleiro aqui e acolá.

Borboletas que giram
Nas suas chamas
Vermelho vivo
Saltitando
Como ventos brincalhões.

No silêncio do seu som
Eu escuto as suas chamas
Sentindo o seu calor
Que mais tarde desaparecerá
Deixando nas cinzas,
Saudade.

Inês João Santos, 12D

PIONEIRO - Francisca Silva - 12D

Ainda é cedo para escolher,
mas o destino já me escolheu.

Gostava de ser espectador,
mas a consciência não permite,
por isso, gostava de ser ator
mas poder escolher a cena.

Queria ver nas pessoas
mais do que boas ações,
mas tudo é pano de fundo
este mundo de ilusões.

Perco o tempo e a noção,
vivo sonhos que não são meus,
vidas que não são minhas,
viro costas à razão e esqueço o meu Eu.

Nunca quis ser o primeiro,
mas o pioneiro!
Gostava de desafiar o tempo,
mas já é tarde.



Francisca, 9, 12D


A AUSÊNCIA FAZ ESQUECER - Andreia Sousa - 10D

A ausência faz esquecer
Mas a dor fica marcada
Nas marcas do meu corpo
Nos estragos da minha alma.

Não sinto a tua presença,
A tristeza impõe respeito,
O meu corpo fica imóvel,
A minha alma não a vejo.

Esperei pelo que não fizeste
Desejava que o tivesses feito
Não sei porque esperei tanto tempo
Por algo que não apareceu de nenhum jeito.

Agora só quero esquecer
Não vou sofrer mais por amor,
Magoaste-me imensas vezes
E o que restou foi apenas dor.

Com isto consegui entender,
Que a maneira com que cada palavra é dita
É a mesma com que eu sou sentida.